O smartphone mudou radicalmente a nossa noção de tempo
A geração que nasceu por volta de 1987 vai lembrar muito bem de um período de sua infância em que o canal MTV (não sei se ainda faz), de vez em quando, exibia a seguinte frase na TV: “Desliga a televisão e vá ler um livro!”. Esse pedido era visto com um certo tipo de surpresa dos seus telespectadores, pois não era um pedido comum, justamente em uma mídia que é caracterizada pela “guerra de audiências”. “Não mude de canal!” ainda é a frase mais dita pelos apresentadores de TV.
Desligar a TV para ler um livro trazia um conteúdo simbólico que o nosso tempo é precioso e disponibilizá-lo inteiramente para a TV seria uma perda de tempo (será?). Ler um livro, talvez, seria muito mais proveitoso do que assistir (bem, essa era minha interpretação quando a MTV exibia a frase).
O sociólogo Max Weber, no livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo declarou: “A perda de tempo é, pois, em princípio, o mais funesto dos pecados. A duração da vida humana é extremamente curta e preciosa para garantir a própria escolha. A perda de tempo na vida social, em conversas ociosas, em luxos e mesmo em dormir mais que o necessário para a saúde — de seis até o máximo de oito horas — é merecedora de absoluta condenação moral”.
Para as gerações anteriores dos séculos XIX e XX era bem mais fácil estabelecer essa dicotomia entre tempo perdido e tempo produtivo. A ideia era: se estou assistindo a TV, estou passando o tempo, mas se estou lendo um livro, estou produzindo junto com o tempo. E agora, em tempos de smartphones e plataformas de conexão na internet? O smartphone é um dispositivo tecnológico no qual convergiu todas as outras narrativas e mídias. Nele é possível ler texto, assistir vídeos, ouvir podcast, navegar nos mapas e infográficos, fotografar e muitas outras atividades. Meu irmão sempre diz que não precisa de um notebook, simplesmente porque já tem um smartphone.
Vivemos uma era informacional conectada da qual nos falta tempo para acompanhar todas as informações que nos atravessam. Sabe por que temos a sensação de que os dias atuais passam mais rápido? Simplesmente porque vivemos conectados realizando inúmeras atividades digitais.
Então pergunto: o que significa hoje tempo perdido e tempo produtivo? Assistir Netflix é produtivo enquanto acessar o Facebook é perdido? Será?